quinta-feira, 27 de maio de 2010

As mortes do iPhone

A fabricante  Foxconn, empresa chinesa terceirizada de eletrônicos, entre esses, o iPhone, anunciou nos últimos dias o suicídio em massa de 10 funcionários. A unidade emprega 300 mil funcionários e monta produtos para as principais empresas de telefonia e informática do globo (HP, Nokia...), em turnos de dia e de... noite?
Isso mesmo. A Foxconn é uma empresa que possui turnos no período do dia e da noite. Visualizou os chineses geeks (sem ofensa nenhuma, pelo contrário!) trabalhando madrugada afora?
Entrei no site da empresa e me deparei com a filosofia de negócio da empresa:


  • "Vantagens Custo Total", fazer da praticidade do uso dos eletrônicos uma realidade para toda a humanidade;
  • Através do modelo proprietário one-stop shopping vertical integrado e CMMS, revolucionar a eletrônica convencional ineficiente do modelo de outsourcing;
  • Através da devoção a uma maior harmonia social e padrões éticos mais elevados alcançar um modelo win-win para todos os interessados, incluindo acionistas, funcionários, comunidade e de gestão.

Achei essa visão da Foxconn bastante ilusória, além da realidade. É claro que as visões devem ser relativamente ambiciosas, mas levar os eletrônicos para toda a humanidade é inviável, pelo menos no momento. E essa posição fica ainda mais sonhadora ao nos referirmos à Foxconn, pois é o mesmo que dizer: levar a praticidade dos iPhones, celulares Nokia e computadores HP a toda a humanidade.
Outro ponto citado pela filosofia de negócio deles é a ineficiência dos modelos de outsourcing. Outsourcing (em inglês, "Out" significa "fora" e "source" ou "sourcing" significa fonte) designa a ação que existe por parte de uma organização em obter mão-de-obra de fora da empresa, ou seja, mão-de-obra terceirizada. Está fortemente ligada a idéia de sub-contratação de serviços. É justamente isso que a Foxconn representa. Por mais que a empresa queira se posicionar como uma diferenciação do setor e, por isso, criticar a política de outsourcing das outras empresas, não me parece lúcido, pois ainda é o setor que a mesma ocupa e sempre será.
Por fim, a empresa destaca uma maior harmonia social e padrões éticos mais elevados. Será que se essa maior harmonia social e padrões éticos estivessem condizentes com a filosofia de negócios da empresa, um suicídio em massa teria ocorrido?

Se eu pudesse dar um conselho para os gestores da Foxconn, eu diria: estabeleçam uma política de desligamento do funcionário do seu trabalho após o seu turno, pelo resto do dia. Faça com que esse tempo seja gasto em lazer, em distração, em descanso.
Longe de querer criticar de forma destrutiva, mas uma empresa de tecnologia (e, portanto, abarrotada de geeks) que estabelece turnos noturnos e diurnos dá um tiro no pé. É como dar uma goiaba contaminada a um papagaio. Todos, de uma maneira ou de outra, acabam se envolvendo em ambos os turnos. A tecnologia é viciante para os seus amantes e isso desgasta qualquer um. Não se trata de uma fábrica de parafusar ou montar produtos de forma automática e repetitiva, sem grandes novidades. Se trata de um output que envolve idéias, criação, descobertas! E a paixão estabelecida sem um limite, ao contrário do que muitos pensam, só pode resultar, mais cedo ou mais tarde, em destruição.

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