quinta-feira, 25 de março de 2010

Nós vendemos, quem decide comprar?

Segmentação é o processo de agrupamento de clientes visando à seleção de um público alvo. O público alvo da vez é nada mais, nada menos, que aquele formado por crianças de até 12 anos de idade! Exatamente aquele grupo de indivíduos (não tão indivíduos ainda) com pouco discernimento, pouca opinião, pouco limite e muita influência sobre os adultos ao seu redor.

Um estudo sobre o mercado infantil comprova que mais de 40% das compras paternas são influenciadas pelos filhos e que 65% ouvem a opinião de suas crianças em relação a compras para toda família como carros, por exemplo. A expansão do mercado de produtos infantis é gradativa e o anúncio é feito diretamente às crianças que provavelmente não possuem ainda capacidade de escolher entre o chiclete que muda de cor, o fichário do Ben 10 que brilha no escuro e o computador de algum personagem que já sumiu, mas que rendeu algumas licenças.

O debate gira em torno do fato/oportunidade de que as crianças são um alvo muito fácil de convencer, uma vez que o universo de fantasias da infância absorve com mesma intensidade um comercial e um desenho animado. Os pequenos consumidores recebem cerca de 80 mensagens de propagandas (diretas e indiretas) diferentes todos os dias e, como não desenvolveram senso crítico, são extremamente vulneráveis a estímulos de comerciais tanto de brinquedos e guloseimas quanto de bebidas e tele-sexo.


As peças publicitárias e as manobras de marketing voltadas para o público infantil devem então ser banidas? Não há argumentos, regras ou censura que consigam enfrentar o avanço e sutileza dos anúncios nos dias atuais, por isso tais propagandas não se resignarão ao racional universo adulto enquanto tiverem atenção e criatividade para lucrarem através da vasta imaginação de seus próprios filhos; os comerciais devem ser filtrados de forma a terem um apelo menos direto? A menos que apareça uma versão isomorfa do bordão “compre batom”, a classificação do que é direto ou indireto é tão subjetiva quanto questionável, em outras palavras: haja pessoal disponível no CONAR para colocar em prática tal devaneio e engordar os arquivos de casos relacionados à criança; e o que resta aos adultos desesperados com seus pequenos sanguessugas histéricos? Apelar ao bom senso do mercado, das empresas ou dos executivos que querem mais é aumentar seu retorno para sustentar suas próprias crianças mimadas? Ou será que esse é apenas mais um ciclo, como todos os outros, de consumo compulsivo e estimulado?

Sinceramente, a crítica feroz direcionada aos profissionais de Marketing e Propaganda, que têm seus interesses de chamar atenção, conquistar e vender muito bem definidos, deveria antes ser feita aos adultos,  por deixarem que crianças tomassem o controle de orçamentos familiares. A principal falta nessa história toda não é, infelizmente, do ambiente cruel, frio e consumista no qual vivemos, mas sim daqueles que, por falta de paciência ou de inteligência emocional, cedem aos caprichos infantis (que são, como até eu sei, tão infinitos quanto efêmeros).

Por fim, devo concordar que algumas mensagens e apelos publicitários são desnecessariamente excessivos e de ética duvidosa e que as empresas deveriam maneirar e ponderar melhor os meios para se chegar ao público infantil, mas sinceramente eu nunca soube, em minha humilde existência, de uma pesquisa científica que discorresse sobre o trágico caso de um pequeno inocente que morreu por não ter ganhado um pônei ou um foguete no Natal e muito menos de um que tenha sofrido amargamente a solidão gerada pela falta de uma boneca de meio metro e 573 funções...

3 comentários:

Caio Figueiredo disse...

Excelente defesa do lado, sempre considerado, negro da força. Construções de idéias muito singulares e ricas de conteúdo e criatividade. parabens
Mas acho que a propaganda devia ser do BurgersKing enão do Mac Donalds!!

Guilherme Riccioppo disse...

Interessante o post,... gostei da "óptica" de visão de mundo moderno, crianças mimadas. Mas o ambiente não influenciaria na posição dos pais tb?
Uma questão para Piaget, talvez?

Mari disse...

Concoro que os pais não devam ceder tanto às vontades dos filhos, mas acho que a mudança deve ser cultural, de forma a mudar os valores e a propia moral, seja a dos pais, seja a de nós publiciários que devemos encontrar um meio de revertr nossa forma de abordagem.