segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PARTE 2 - Quais indicadores fundamentalistas e de mercado mais importam


Encerrando a postagem anterior (com um pequeno atraso) sobre as pesquisas de Haugen, Baker, Rostagno e Kloeckner sobre quais indicadores fundamentalistas mais importam, usarei essa postagem final para mostrar os resultados que obtive em minha pesquisa (para a conclusão do meu curso na USP).

Trabalhei com a seguinte amostra:

* 60 ações de 60 empresas diferentes que tiveram maior liquidez (volume de negociação) média nos últimos 10 anos.

* 18 diferentes setores da economia.

* Período de 120 meses analisados (o que resultou em um total de 120 regressões), de 2001 a 2010.

* 19 indicadores fundamentalistas e de mercado analisados.

* Nestas 120 regressões foram analisados 141360 pontos de dados.


Como é possível ver pelos dados acima, procurei trabalhar com um espaço amostral bastante grande quando comparado aos outros estudos (de fato, é o estudo com maior amostra já feita no Brasil utilizando essa abordagem, o que me valeu várias noites em claro).

Meu objetivo com uma amostra e um período tão grande foi obter um elevado grau de confiança estatística das conclusões que eu viesse a obter.

E quais foram estas conclusões, obtidas por meio das ferraentas estatísticas (regressões cross-section e testes t de student)?

1 - Os 19 fatores que foram abordados no estudo são responsaveis por 68,5% da variação de uma ação (Valor do R-Squared). Esse é o maior valor já obtido por um estudo com essa abordagem no Brasil, sendo superior a do trabalho de Rostagno.

2 - São 7 os fatores que tem um impacto significativo no retorno das ações. Abaixo eles estão por ordem de importância (significância estatística):

a) Volatilidade da Ação: Tem um payoff de 0,246 positivo. Volatilidades altas, portanto, favorecem maiores retornos. (Ok, isso pode parecer óbvio, mas pelo menos esse resultado específico serviu para corroborar o óbvio).

b) Dividend Yield: O Famoso indicador ficou no posto de segundo mais importante entre os 19 analisados, e tem um payoff positivo de 0.080. Ou Seja, ser bom pagador de dividendos no brasil favorece maiores retornos.

c) Margem de Lucro Líquido: Payoff positivo de 0.114. Uma margem de lucro líquido elevada da empresa ajuda os retornos da ação desta à serem maiores no trimestre seguinte. (Ok, isto também pode parecer óbvio... Mas continue vendo os outros resultados que estes não o serão tanto)

d) Preço da Ação: Payoff positivo de 0.070. Este resultado mostra que ações com valores de lote altos (exemplo: AMBV4) tendem a possuir retornos favoráveis em relação às penny stocks (aquelas ações que custam centavos). Talvez isso seja facilmente explicado pelo fato que, no Brasil, ações de centavos geralmente são de empresas moribundas.

e) Volume de Negociação divido pela Capitalização de Mercado: Esse indicador, não muito popular no Brasil, apresentou uma forte influência sobre o retorno das ações, com um payoff negativo de -0.072. Ou Seja, ações de empresas pequenas e com alto volume de negócios (tipo aqueles micos especulativos) tenderão a performar PIOR do que ações de empresas grandes e com baixo volume de negócios.

f) Retorno Excessivo sobre o Ibovespa nos últimos 6 meses: Payoff positivo de 0.125. Ações que tiveram nos 6 meses anteriores um retorno superior ao ibovespa, no mês seguinte apresentaram retornos superiores à média. Isso vai ao encontro do que Haugen definiu como "inércia" dos 6 meses.

g) Retorno Excessivo sobre o Ibovespa nos últimos 3 meses: Payoff negativo de -0.173. Ações que tiveram nos 3 meses anteriores um retorno superior ao ibovespa, no mês seguinte apresentaram retornos inferiores à média. Esse resultado é o mesmo encontrado por outros autores e definido como "reversão" em relação ao trimestre anterior.


E após a demonstração destes 7 indicadores, que se mostraram relevantes na influência no retorno das ações, a pergunta que surge é: e os outros 12 que você estudou?

Simples: os outros (PL, PVPA, Endividamento, Retorno do Ativo, Retorno sobre o Patrimônio, etc) não apresentaram significância estatística de seu impacto sobre os retornos. Falando de maneira simples: Não foi encontrada influência dos outros 12 indicadores no retorno das ações no mercado brasileiro.

Com os resultados obtidos neste trabalho, podemos "delinear" o que seria a ação perfeita: - Uma ação volátil, com um valor de lote caro (não dá para comprar com pouco dinheiro), de uma empresa grande e/ou não muito negociada em bolsa, com uma margem de lucro líquido elevada, que distribua elevados dividendos, e que nos últimos 3 meses tenha valorizado menos que o Ibovespa, embora nos últimos 6 meses tenha tido uma valorização elevada.

3 comentários:

Ovos de Ouro disse...

Grande depende, beleza?

Criei um novo site que é o

www.laksantana.com

Se vocês quiserem substituir o blog do lucasaks por esse meu novo site seria muito bom!
Seu blog já está relacionado no meu!

Abs

Marcelo Novaes de Oliveira disse...

Levi,

Qual a previsão da publicação final da tese? Poderia disponibilizar alguma forma de a lermos? Parabéns por tomar o caminho mais "trabalhoso" ao invés de meramente replicar outros estudos, como de praxe das teses por aí.

Há dois anos cheguei a dar uma pesquisada em um tema parecido (período de 1994-2008), mas sinceramente trabalhei com poucos variáveis, todas contábeis, e buscava mais encontrar a relação entre estas e o preço de mercado, mas não encontrei significância ou relevância estatística.

Um abraço,

~Marcelo

J. Levi B. de S. disse...

Ola Marcelo! O PDF completo está nesse link:

http://stoa.usp.br/boblevi/files/-1/18270/TCC+Jonatas+Levi+Borba+de+Souza.pdf

Obrigado pelos parabéns! Realmente foi muito trabalhoso. Só na triagem de dados do economática gastei mais de 100 horas.Mas valeu a pena.

Giácomo,eu cheguei a simular em algumas variáveis sim a retirada de Petrobrás e Vale. Mas elas só dão diferença significativa no indicador Capitalização de Mercado.

Obrigado!