quinta-feira, 26 de julho de 2012

The Swan Song - Schubert, Merton e a Dívida Européia

     A última obra do músico alemão Franz Schubert é conhecida como "A Canção do Cisne", pois, tal qual a lenda (negada por Plínio já na Roma Antiga) que diz que antes da morte, o Cisne Branco canta sua única e última canção, padecendo logo em seguida, Schubert também a divulgou pouco antes de sua morte.

     Esta semana, li um report divulgado pelo jornal francês Le Figaro (recomendadíssimo, por sinal), chamado "Regards européens sur la crise de la dette", onde são divulgadas várias pesquisas populares sobre o que a população desses países acham, atualmente, sobre o futuro de suas economias e sobre qual estágio se encontram na crise (se vai melhorar, piorar ou ficar na mesma no futuro próximo). Caso queiram ver, está no link: http://www.lefigaro.fr/assets/pdf/Ifop-Fiducial-Figaro-europecrise.pdf.

      Na página 6 é possível ver a evolução da opinião dos pesquisados ao longo dos últimos semestres, e se torna nítido o crescimento do pessimismo em todos os 3 países (França, Alemanha e Itália). Em Novembro de 2009, 22% dos franceses acreditavam em uma melhora da crise. Hoje, esse percentual é de apenas 9%. O resultado da pesquisa na Itália e Alemanha também mostra uma piora semelhante. 

    Muitos podem questionar o que realmente importa para a economia a opinião de pessoas como estudantes, professores de ensino fundamental ou donas de casa. Oras, eles são os consumidores! Em última instância, são essas pessoas, que movem uma economia de trocas, que podem empurrar morro abaixo a bola de neve de uma crise.

     Robert Merton, um dos mais importantes sociólogos do século XX cunhou o termo "profecia auto-realizável", para explicar como as corridas aos bancos, em momentos de grande incerteza onde a população começa a entrar em uma histeria de saques de suas contas correntes (ao pensarem que seus bancos podem estar com a saúde comprometida), pode desencadear uma crise de facto (que até então não existia ou estava em proporções muito menores) ao diminuir a liquidez do sistema financeiro, restringir o crédito e assim diminuir os recursos disponíveis para o setor produtivo se sustentar. E, fazendo assim surgir um problema REAL.

    A situação atual não se trata de uma corrida aos bancos (ainda?), mas também pode ser usado o termo criado por Merton. A Incerteza mostrada no artigo do Le Figaro pode, em algum momento (se é que isto já não está acontecendo), ocasionar uma sensação nos consumidores de que é melhor neste momento poupar dinheiro ao invés de gastar. E assim, a indústria e o comércio passam a sofrer com a falta de recursos, tendo de reduzir a produção, fechar fábricas, gerando desemprego. Eis que então, talvez, possamos ter um problema real.

    O Pessimismo da população, nesse caso, é uma triste e alarmante canção do cisne.




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